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Relacionamentos

Ana Cristina Alves Lima

Recentemente soube de uma garota de 16 anos que sofreu sua primeira desilusão amorosa. Aos olhos dos adultos, o namoro adolescente pode ser considerado apenas um "namorico", mas para quem sente, principalmente o adolescente, pode ser uma dor dilacerante. As desilusões passam, mas os ensinamentos ficam. Toda nova relação acreditamos que vai dar certo e, conforme amadurecemos, vamos lidando melhor com essas situações. No entanto, tudo o que acontece na vida do adolescente é intenso.

A novela "Malhação - Viva a Diferença" vem apresentando questões da adolescência sob o ponto de vista das diferenças étnicas, econômicas e sociais que permeiam o mundo dos jovens. Gravidez na adolescência, namoro inter-racial e diferenças sociais marcam as histórias de alguns dos personagens. Dois pontos centrais podem ser destacados: as histórias de amizades e as de amor, ambos contemplados de diferentes formas na novela.

A estória começa com um encontro, por acaso, de cinco meninas dentro de um vagão de metrô da cidade de São Paulo. Uma delas está grávida e entra em trabalho de parto no momento em que acontece uma pane no metrô. As outras meninas se sensibilizam e colaboram com o parto, criando a partir daí um forte vínculo de amizade. A partir deste evento tão significativo, as cinco meninas viraram referência uma para a outra diante das situações que vivenciam. A comunicação via celular se faz presente a todo instante, porém, a casa da Keila também virou ponto de encontro, ambiente neutro para as amigas, local onde as diferenças se minimizam.

Vamos falar um pouco de cada personagem

Keila, a garota protagonista do evento principal do início da novela, deu à luz à um menino, que foi batizado de Tonico. Além de questões relacionadas a maternidade na adolescência, como a rotina do bebê e concluir os estudos, a personagem apresenta questões relacionadas à autoimagem, preocupando-se excessivamente com o corpo, arriscando-se a tomar remédios sem prescrição e sem orientação médica, interferindo inclusive na relação com o atual namorado, recusando maiores intimidades enquanto não se sentir a vontade com o próprio corpo. Outro mote dessa personagem é o fato dela não se lembrar do pai da criança, tendo apenas o nome dele como referência, como memória de uma festa.

Lica acaba de passar pela separação dos pais e, por mais que esse tipo de evento não seja mais um tabu nos dias de hoje, a garota não está gostando dessa nova condição familiar. Além disso, descobriu que o pai trai a mãe com a melhor amiga dela e como o caso não era recente, uma filha nasceu desse relacionamento. A menina em questão era melhor amiga da Lica, e agora ambas têm que lidar com essa situação. Além dessa questão, a adolescente se mostra confusa em relação ao seu namoro, verbalizando que pelos pais terem dado mal exemplo não acredita no amor.

Benê, filha da zeladora da escola, se mostra tímida e com dificuldades em expressar suas emoções. Verbaliza que nunca tinha tido amigas antes desse encontro com as meninas no metrô. Apesar de algumas dificuldades de habilidades sociais, se mostra bem intencionada a apaziguar os ânimos e manter a união de amizade.

Tina tem muito talento para música e seu grande conflito gira em torno das expectativas da mãe, que almeja que ela seja médica, case com um menino da cultura japonesa, como ela. A personagem representa um papel muito importante e muito frequente na vida dos adolescentes: lidar com a expectativa dos pais. Não conseguir ou não querer atender à essas expectativas torna-se o motivo de muitas brigas entre pais e filhos nessa fase.

Ellen é menina prodígio no assunto computação e programação, mesmo tendo pouco acesso à educação formal de qualidade. Mora num bairro pobre de São Paulo e se queixa da ausência da mãe, que trabalha como enfermeira e, por conta de inúmeros plantões, nunca está presente. O apoio emocional dela, além das amigas, é a avó, que cuida dela e do irmão Anderson. Ellen também apresenta questões de inabilidade social, mas a personagem na estória também enfrenta situações de preconceito racial e social.

Os tempos mudaram e muitas coisas que eram tidas como verdades quando éramos adolescentes não são mais assim. Os adolescentes hoje lidam com mudanças econômicas e sociais. O mercado de trabalho não é mais o mesmo, as profissões também. São muitas novas opções.

Considerando que a adolescência é um período único, com transformações físicas, mas também psicológicas importantes, os conflitos e crises vão se minimizando com a chegada da idade adulta. Segundo Erik Erikson (autor psicanalista), a força básica que se adquire com a resolução da crise da identidade é a fidelidade. A fidelidade num sentido amplo, de coesão de ideias e valores, características importantes para a entrada na vida adulta.

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